O Garoto da Casa Verde XII

Muitas pessoas no mundo, perdem seus entes queridos, a morte é algo normal na vida das pessoas, sei que muitas pessoas na vida perdem mães, as vezes os pais, tios na vida, sei que graças a Deus era abençoada por ter a minha mãe. Vivi toda a minha infância com dois pais apaixonados que eram apesar do duro trabalho que tinham e hospitais para atender, era bonito ver os dois juntos, abraçados e se beijando, eu via entre os dois passar de uma paixão a uma verdadeira amizade. E eu me sentia agradecida por ter os melhor pais do mundo, nunca me deixavam faltar nada e eles me mostravam a realidade da vida, me levavam em orfanatos, iam comigo nas ruas levar comida e edredons aos sem teto, via crianças internadas em seus hospitais, eles nunca escondiam nada de mim, só coisas que poderiam ser chocantes para mim eles chegavam, a conversar comigo antes que eu visse.
Agora que o meu pai morreu, e que não era mais criança, já era adolescente e uma aparte adulta em mim diziam para que eu madurecesse. As duas primeiras semanas que se seguiram não tive coragem de ir para a escola, na verdade não estava nem um pouco bem e a minha mãe me entedia, mas sempre vinha ver como eu estava e falava que eu precisava encarar a verdade, e voltar para o colégio e estudar.
Não tinha mais bons sonhos, sempre os pesadelos me atormentavam as imagens do enterro,  do meu pai em baixo de um pano, em seu terno preto, com um girassol nas mãos, a madeira do caixão se fechando em cima, os homens, tios e meu avô que tanto amava o seu filho carregando aquele pesado caixão no meio no caminho até o barraco onde iria ficar para sempre.
Minha mãe sempre vinha ouvindo meus gritos de agonia e tristeza a me acordar, ela simplesmente, me pegava em seus braços, encostava a minha cabeça em seu peito, sentindo suas lagrimas no meu cabelo ela dizia com amor:
-Já passou filha. Xii... A mamãe está aqui.
Era quase todas as noites, me pegava desenhando sempre a mesma coisa, o girassol sendo envolvido com seus dedos frios e cálidos pela morte.
Foi a minha primeira vez que tinha ido a um enterro, foi chocante para mim ver o meu pai daquele jeito, cheirar fumaça de cigarro no meio de pessoas que nem se importavam realmente com o meu pai e com a nossa família.
Momentos em que eu me lembrava para tentar desviar dos pesadelos, me pegava lembrando da sensação dos seus braços em volta de mim, dizendo que tudo irá passar, seu abraço quente e forte, então me pegava perdida em seu toque.
Na segunda semana as coisas começaram a melhorar, ao invés de ter pesadelos, eu não tinha sono e pedia as vezes para poder dormir com a minha mãe apesar de já ser adolescente, por que enfrentar tudo isso sozinha era muito e ela também me chamava as vezes era claro que precisávamos uma da outra.
Tentava desenhar outras coisas, ver um filme a tarde, ler um bom livro de romance alegre e tentava desenhar rosas vermelhas ao invés de cemitério.
Até que em uma segunda feira, minha mãe abriu as cortinas do quarto, me levantando, tendo como ordem a sua voz:
-Vamos mocinha, você precisa voltar para o colégio.
Eu resmunguei de baixo do travesseiro:
-Eu não quero ir mãe. Tem certeza?
Ela sentou na beirada da e simplesmente falou, me convencendo a me levantar, me trocar e ir:
-Seu pai iria ficar muito chateado se soubesse, que a filha amada dele parou de seguir com a vida por sua causa.
Sabia que não podia mais fugir da realidade, agora o que iria restar do meu pai será a saudades que sentirei dele e as memórias vivas na minha lembrança, os bons momentos que ele deixou na minha vida, sei que um pedaço dele eternamente ficará comigo e uma boa parte minha ficará eternamente com ele de um jeito ou de outro, nos poucos momentos que tinha com ele era só risada, era meu amigo me contava de suas viagens, dizia cada lugar que gostaria que eu conhecesse, a alegria estampada em seus olhos cada nota boa que eu tirava e  as vezes que dançávamos quando era pequena colocava meus braços nos seus quando tocava uma música nas festas era muito pequena ao ver meu pequeno pé em cima do seu, os jantares e almoços que tive com ele, o amor que carregava por ele nunca em momento algum vai diminuir e a saudade vai ficar. Afinal a saudade é um amor que fica.




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