O Garoto da Casa Verde X


No dia seguinte soube que o meu pai foi fazer um trabalho em outro hospital fora da cidade pela a minha mãe, disse que o papai iria passar a semana fora.
Não podendo ter o meu pai naqueles dias para me dar uma boa noite e me contar sempre que podia suas histórias do trabalho e como eram os outros países que ele já tinha conhecido, eu fui numa quinta para o colégio, já tinha se passado três dias sem ele.
Eu ficava pensando naquele dia os desenhos que já tinha feito do meu pai, os poucos momentos e bons que tinha com ele, os doces de leite que me trazia num pote das suas viagens, como ele me incentivava a caminhar, o meu urso branco que ele me trouxe de uma viajem dizendo que lembrava de mim.
Pensava nas pessoas que tinham mais do pai presente nas suas vidas, de acordar de manhã para tomar café e ver seus pais na mesa conversando do dia a dia, das rotinas comentando bobagens. 
Estava andando no corredor, quando longe do meu armário exatamente onde fica o seu, ele estava conversando com seus amigos e com aquela garota loira, todos ficavam às vezes me olhando, pareciam falar sobre mim, mas eu não estava me importando, estava sentindo saudades do meu pai e ficava pensando nas lições de casa e nos meus desenhos para dar atenção. Mas o que me chamou atenção foram os seus olhos, pareciam com medo, como se estivesse forçado a fazer algo que não queria. Mas coloquei na cabeça que aquilo não era comigo, sai do meu armário e fui andando no corredor sem me importar. 
Quando cheguei a minha sala, aquele dia apesar de estar fazendo sol parecia nublado para mim, o coração estava apertado nem sabia qual era o real motivo, mas às vezes sentia coisas que não conseguia explicar, eu achava dentro de mim que foi o  rosto do Eduardo que causou desconforto em mim, por que seus olhos pousavam em mim fixamente, como se por algum motivo sem sentido ele estivesse fazendo algum mal a mim simplesmente por olhar, mas sabia dentro de mim que era algo além disso, alguma coisa que eu não sabia estava acontecendo e sentir isso e não saber me incomodava muito.
Quando estava na aula, eu sentia a todo o momento na explicação do professor, olhos em meus ombros as vezes em meu cabelo outros momentos era em meu caderno, um olhar em específico e nervoso aquilo estava começando a me irritar, mas eu não iria olhar não queria fazer isso sabia que não importava de quem era, não era boa coisa.
Então no meio da aula veio o diretor na sala, chamar o professor estava com um semblante sério, parecia que algo muito ruim estava acontecendo, o professor no mesmo instante saiu da sala.
Sabe quando você não acredita em algo que vê e sente, quando tudo o que você acredita e em tudo o que presciência na sua vida tivesse escorrendo das suas mãos como água em uma corrente que só tende ir para baixo longe do que você consegue ver, quando você deseja que naquele momento fosse apenas um pesadelo bobo, que quando você acordar tudo ficará bem, então apresento a vida você pois não consegue acordar.
O professor me chamou para a porta com uma cara de assombro:
-Clara, vá para a sala do diretor agora.
Eu me levantei, nem peguei as minhas coisas já sabia que algo muito sério tinha acontecido, todos estavam com os rostos de preocupação, mas eu não me importava mais com a minha sala, não estava nem ligando para as suas fisionomias, eu sai quase correndo para a sala do diretor.
No meio do caminho via pela primeira vez os adesivos nos armários dos alunos, e via o quanto o corredor estava vazio, com algumas folhas soltas ao chão, as portas das salas de aula tinha um vidro transparente, via que todos os alunos estavam nas suas expectavas salas, mas quando eu passava todos que estavam perto da porta ficavam me olhando.
Não sei o porquê mais sentia dentro dos meus pulmões, que algo muito grave tinha acontecido com o meu pai, por que dê que acordei hoje de manhã não me sentia bem em relação a ele, parecia que quando eu pensava nele algo dentro de mim faltava, como quem falta o ar dentro da piscina, você tentar pegar o ar, mas não consegue emergir.
Quando abri a porta da sala do diretor, ele estava com uma cara péssima, como se estivesse passando mal, então eu simplesmente perguntei:
-O senhor está bem?
Ele respirou fundo, olhou para mim com um semblante de preocupação e de pena, como se algo muito ruim tivesse acontecido de importante e por alguma inocência minha eu não sabia.
Ele parecia não saber o que fazer, então pegou uma página de jornal de hoje e me entregou, ele simplesmente disse:
-Leia.
Na primeira página do jornal tinha uma enorme foto de uma acidente de carro, estava capotado e pegando fogo diante de um caminhão de madeira, amassado com parte parcial pegando fogo.
“As 6:00horas dessa quinta feira médico pediatra morto pela intoxicação da fumaça provocada pelo acidente de carro.”
Tinha muito mais escrito detalhes, entrevistas de quem viram o acidente, mas depois da palavra morto, não queria mais ler, não estava acreditando, eu apenas olhei séria para o diretor sem falar uma palavra, não tinha o que dizer só queria fugir dali e ir para um lugar sozinho chorar, não queria que me visse chorando.
Simplesmente, me levantei o olhando, apenas disse com a voz seca:
-Senhor diretor, preciso ficar um tempo a sozinha.
E sai correndo da sua sala, fui para fora do colégio e no desespero de achar um lugar o máximo, escondido o possível, estava suando e respirando ofegante, estava me segurando máximo que podia, ficava olhando para os dois lados do corredor de fora do colégio e perto do jardim foi o único lugar o mais longe possível e escondido que achei.
Agachei-me no chão, nem consegui me sentar, fiquei como uma bola segurando os dois joelhos, com a cabeça escondida no colo, deixou as lágrimas doloridas saírem dos meus olhos, sentia queimar a minha garganta, eu não achava que pararia de chorar, para mim não parecia ter mais motivo para viver.
Eu só senti dois braços fortes, me abraçar e a me envolver sem saber o que fazer eu simplesmente continuei chorando em seu ombro sem dizer uma palavra, tinha perdido uma das pessoas na minha vida que mais amava e não estava preparada para sentir tanta dor.
Quando eu consegui respirar um pouco e vi seus olhos brilharem gentis para mim, tentei me afastar mas seus braços fortes me apertaram um pouco eu simplesmente disse, sentindo meu nariz sujo, colocando a mão, tentando mais uma vez me afastar:
-Molhei toda a sua camisa. Preciso ir ao banheiro me recompor.
Ele sorriu, me deixando sair dessa vez, mas com um semblante preocupado:
-Tem certeza? Você não parece bem ainda.
Levantei-me cambaleando um pouco ele me segurou pelo braço um pouco, eu estava morrendo de vergonha por ter chorado nele e sai correndo para o banheiro mais próximo, senti que ele corria atrás de mim, mas quanto mais ele se aproximava mais eu me adiantava até que eu senti que ele tinha desistido e ficado para trás.

Comentários

Postagens mais visitadas