O Garoto da Casa Verde XI

Estava em frente a um espelho enorme, a cabeça estava tonta e a visão embasada, parecia que tinha acabado de acordar de madrugada sem ter tempo de dormir, estava pálida em frente a imagem, tinha enormes olheiras de sono, minha mão estava gelada e tremia a ficar arrepiada da cabeça aos pés.
Fui me aproximar, esticando aos poucos o braço, curiosa como era queria sentir a textura do vidro, saber se tudo aquilo que estava vendo era real, quando eu toquei a pequena ponta da unha e no mesmo momento senti faltar o chão aos meus pés, eu entrei em pânico sentindo o sangue das minhas veias gelarem mas estava tão fraca de gritar ou ter qualquer reação, que eu me deixei cair no escuro no limbo infinito.
Era exatamente como esses pesadelos que estava tento durante essa semana sem a falta do meu pai, acordava toda a madrugada gritando e suada, tento que a minha mãe me acordar todas as vezes.
No dia seguinte em que o diretor me contou que meu pai tinha morrido, minha mãe estava providenciando tudo para o enterro daquela tarde, mas mesmo parecendo ser forte, madura para lidar com aquilo tudo olhava para o semblante da minha mãe e sabia, que por dentro assim como eu ela estava destruída, alguém muito importante nas nossas vidas foi tirado, era como se tivessem levado uma parte de nós mesmas embora.
O que mais me irritou foi ver pessoas que mal conversavam com o meu pai, pessoas da cidade que mal se importavam com ele ali, pessoas que nem eu gostava, mas antes de sair de casa a minha mãe falou para mim antes de sair pela porta:
-Filha, sei que esses momentos estão sendo muito difíceis como é para mim, mas temos que ser gentis com as pessoas hoje, seja forte o máximo que poder vão querer nos consolar, então pense duas vezes antes de falar qualquer coisa hoje.
E foi o que eu fiz, contava até dez  ao respirar, quando eu via alguém que não tinha o por que de estar ali.
No meio da tarde quando estava perto do enterro, eu me sentei num banco perto do caixão fechado, a minha mãe não queria que vissem meu pai queimado, pois ele tinha deformado um pouco que a maquiagem não conseguiu disfarçar.
Eu senti o peso nos ombros naquele momento que eu me sentei, senti a dor nos pés com o salto alto preto que tinha colocado, não estava acostumada com o salto, meu vestido grudava em alguns lugares e incomodava por ser curto.
Mas naquele momento só sentia a dor que sentia nos ombros e nas costas, por alguma razão sentia cheiro de queimado, e aquilo me fazia sentir ânsia e vontade de chorar.
Justo no momento em que achei que iria chorar e perder o controle de mim mesma, ele apareceu, mas eu só senti quando ele estava ao meu lado com um terno preto e os cabelos loiros em gel, ele passou um dos seus braços ao redor do meu ombro e simplesmente disse:
-Eu sinto muito Clara, mas isso tudo vai passar.
Eu tirei o rosto que estava enterrado nas minhas mãos, olhei para ele seria e ele estava ali calmo com seu sorriso de dentes alinhados e suas covinhas que eu sempre admirei.
Na minha cabeça, pensei em gritar com ele, em ser grossa e dizer que ele não sabia o que eu estava pensando e que estava errado. Mas eu via aquele sorriso tranquilizador na minha frente e a vontade de falar sumia na mesma hora, quando eu fui agradecer ele me interrompeu ao dizer:
-Você não precisa me agradecer. Eu passei pelo mesmo, acho que não percebeu mas no começo no ano passado o avô que eu amava muito por parte de pai morreu de velhice, diziam que foi pro causa decorrente do Alzheimer, mas o fato era que ele foi um segundo pai para mim e isso foi muito difícil, mesmo sendo novo, nos primeiros meses foi difícil mas no final do ano eu já tinha me acostumado e fiquei bem.
Ele abraçou mais forte depois que falou, respirou um pouco forte, parecia segurar o choro ou parecer mais corajoso para mim, não sabia o motivo, eu simplesmente olhei para o chão sentindo seu braço ao meu redor e não falei nada,simplesmente retribui o abraço envolvendo meus braços aos dele, então depois de alguns segundos ele simplesmente falou:
-Quando você menos esperar, vai restar apenas saudades do seu pai e você estará bem.

(Continuação)

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